Nos dias 1 e 2 de julho, Belo Horizonte recebeu a terceira edição do Tailings Brazil, congresso promovido pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e considerado um dos principais fóruns de debate sobre segurança e gestão de estruturas de disposição de rejeitos no país. Realizado no auditório da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), o evento reuniu representantes do setor público, especialistas da academia e profissionais de empresas do setor mineral.
Quem acompanhou tudo de perto foi a engenheira geotécnica Bianca Lacerda, responsável pela área de Pesquisa e Desenvolvimento do Geolabor, que participou dos dois dias de evento e compartilhou conosco os principais destaques técnicos, as tendências discutidas e os desafios que permanecem abertos para a geotecnia da mineração no Brasil.
“O Tailings Brazil trouxe uma abordagem técnica atualizada e discutiu as melhores práticas de forma dinâmica, com painéis colaborativos que enriqueceram os debates. Foi um evento essencial para quem atua na prática da geotecnia”, afirma Bianca. E, se você não pôde ir ao evento, chegou a hora de ficar por dentro dos principais pontos, a partir de agora.
Temas que conectam técnica, sociedade e segurança
Além dos debates técnicos (como normas, legislações e práticas de segurança em barragens e pilhas), Bianca destaca que o congresso também tratou de temas transversais, como comunicação de risco e o impacto social da engenharia geotécnica.
“Foi levantado um ponto muito relevante sobre como comunicamos a geotecnia e os riscos da mineração. Discutiu-se a importância em ser transparente sobre os riscos existentes na mineração e em como eles são controlados. Além disso, foram abertas discussões sobre assuntos que envolvem a técnica e a sociedade, como os estudos de manchas de inundação, presentes em mais de um painel do evento.”
Inovação e segurança: o elo que transforma o setor
Desde os rompimentos das barragens de Fundão e Brumadinho, a inovação passou a ser pauta central na busca por mais segurança nas estruturas geotécnicas. Para Bianca, inovação e segurança caminham juntas:
“A inovação está diretamente relacionada ao aumento da segurança. Isso passa por novas técnicas, metodologias, tecnologias e regulamentações que possibilitam o controle e o monitoramento mais eficientes das construções.”
O painel mais impactante: segurança na disposição de rejeitos em pilhas
Entre tantos debates importantes, Bianca destaca como mais impactante o painel que tratou da segurança na disposição de rejeitos em pilhas.
“Diferente das barragens, as pilhas são estruturas de construção contínua, exigindo, também, um controle contínuo. É fundamental entender, por exemplo, como elas se comportam ao longo do tempo, como os rejeitos reagem a tensões elevadas e como podemos garantir a disposição na umidade ótima de forma ideal. Foram discussões técnicas super atuais, essenciais para o futuro da geotecnia.”
Tendências e insights: o futuro em construção
A engenheira reforça que muitos dos desafios levantados nos painéis ainda não têm respostas definitivas — e é exatamente isso que mantém a pesquisa ativa e necessária no setor.
Entre os principais direcionamentos discutidos no evento, Bianca destaca reflexões provocativas:
“É importante fazer com que a sociedade pare de demonizar as barragens.”“No futuro, vamos precisar aprender a trabalhar com a coexistência de pilhas e barragens.”
“Dado fora de contexto é apenas informação.”
“Falar que é seguro o tempo todo é simplificar todo um processo. É preciso comunicar com transparência os riscos e como eles são controlados.”
“O imaginário público conecta acidentes passados com o presente muito rapidamente. Precisamos ser transparentes e consistentes na comunicação técnica.”
“A Geotecnia é um processo diferente — logo, a comunicação também precisa ser.”
“A regulamentação das pilhas é essencial para que elas não se tornem as barragens do futuro.”
Conexões com o trabalho do Geolabor
Muitos dos temas abordados dialogam diretamente com a atuação do Geolabor, especialmente no que diz respeito à segurança, controle tecnológico e garantia da qualidade em obras geotécnicas.
“Os debates sobre regulamentações e padrões de qualidade mostram como o controle tecnológico é indispensável. Nesse cenário, vejo o Geolabor como uma ferramenta que apoia ativamente o setor, levando para o para a prática atual e futura o nosso compromisso com a excelência”, afirma Bianca.
Reflexões finais: estruturas vivas, pesquisa contínua
“Os desenvolvimentos no setor precisam ser como as pilhas: estruturas vivas e em construção contínua. Não podemos parar. A inovação é essencial, especialmente porque ainda há muitas perguntas sem respostas. O trabalho mais desafiador será sempre o próximo”, conclui Bianca.
A engenheira finaliza com uma indagação levantada pelo professor Fernando Schnaid sobre a dificuldade da disposição de rejeitos em pilhas no período chuvoso:
“Ainda estamos longe do mundo ideal, mas precisamos continuar construindo. Acredito que o grande ponto está em (re)pensar a atuação do setor, reconhecendo que será necessário coexistir com barragens e pilhas. Retomar e aprimorar o uso das barragens, junto às novas tecnologias de disposição em pilhas, poderá ser um caminho interessante para o setor.”
